Descobrindo nossa missão
Gosto de abordar o tema “missão”, pois acredito que seja o aspecto mais importante da vida e que se reflete como ponto-chave em todo trabalho de auto-conhecimento, na espiritualidade e na psicoterapia. Isso porque os sofrimentos estão sempre ligados a um desequilíbrio entre o que “somos” e o que “queremos ser”. E o que seria esse “somos” e esse “queremos ser“?!
Com “somos” me refiro ao como “conseguimos ser” dentro de nossas possibilidades e das circunstâncias de nossa vida. Com “queremos ser” quero me referir ao que nossa natureza nos impulsiona sermos, ao que nosso coração quer e que muitas vezes não entendemos a sua mensagem. Isso porque não estamos acostumados a ouvir a voz do coração, pois a nossa sociedade ocidental dá mais valor ao lado racional e lógico da personalidade. As crianças são vistas como mais inteligentes quando vão bem em matemática, ou hoje em dia, quando gostam e têm mais habilidade em lidar com o computador, apesar de tudo isso ter a ver somente com o lado lógico e racional da personalidade. Muitas crianças têm facilidades para o desenho, ficam mais tempo brincando com seus brinquedos e entram num mundo de sonhos onde podem exercer seu poder criativo e desenvolvem, assim, uma construção bem mais ampla da vida através de suas imagens interiores.
Muito se tem falado sobre missão. James Redfield disse: "Todos nós temos um propósito espiritual, uma missão, que andamos buscando sem estar plenamente conscientes dela e uma vez que a trazemos completamente à consciência, nossas vidas podem decolar.”
Como seguir o conselho de Redfield? Para trazê-la à consciência precisamos entender bem o que seja esse propósito. O psicoterapeuta Thomas Moore fala sobre “o chamado de um lugar que é fonte de significado e de identidade”.
Somos como células de um magnífico universo e, como tais somos parte do Todo e portanto temos uma missão nessa cadeia. Cada célula tem a sua missão a partir de suas características próprias, pois não existem por acaso. No caso dos seres humanos, seus temperamentos e suas habilidades, mas também suas motivações mais íntimas. Para o teólogo Matthew Fox, "a vocação é o nosso chamado para participar da obra do universo e, portanto, nossa missão seria nosso “papel no Cosmo”.
A nossa missão não é uma coisa abstrata ou inventada, mas é a nossa “verdade”, única e pessoal, independente de crença, leis, valores morais, imposições da sociedade. É uma imposição da nossa natureza, uma verdade íntima.
Os conflitos cujo efeito buscamos cessar com psicoterapia, têm muito a ver com a missão de vida. Nossa busca espiritual está intimamente ligada a esse significado de que falam Moore, Redfield e Fox. Cada simples desequilíbrio, seja mental, emocional e/ou mesmo físico, demonstra que estamos saindo do eixo, ou seja, estamos nos afastando do que nossa natureza quer, nossa vocação, nossa missão. Nossa missão é o que realmente somos em nosso íntimo e nossa vocação é o que devemos fazer para estarmos em sintonia com nosso caminho na vida.
Buscarmos nossa missão não é inventarmos algo que nos dê alívio, mas uma descoberta conquistada através de uma busca profunda e, segundo Victor Frankl, “a tarefa de cada um de nós é única e intransferível. A nossa missão exige “realização” e nossa tarefa é tão única como é única nossa oportunidade de implementá-la”.
A descoberta pode ser feita por muitos ou por vários caminhos ao mesmo tempo: a observação de si mesmo, o autoconhecimento através da investigação analítica num divã ou consigo mesmo, da regressão de memória, da prática da escrita de seu “livro das sombras” (seu diário mágico), do estudo e da meditação, da religiosidade prática, da auto-superação diária.
Todas as possibilidades nos são dadas pela vida, basta que optemos por dar o primeiro passo e tenhamos a perseverança no nosso objetivo, na busca espiritual e no fim, que é a Luz.
por Roberto Dantas
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