Além do horizonte, existem outros mundos a serem descobertos.
Lá, folhas não caem, elas flutuam.
Lá, o meio de transporte são pássaros que vem até você e com o suspiro de seu amor, neste mundo todos andam de mãos dadas lá é aonde a harmonia toma conta da natureza de todas as espécies viventes.
Lá, não colhemos flores, mas as flores colhem a gente.
Chegou o tempo de despertar e acreditar que esta vida vale apena ser vivida.
-Rhenan Carvalho-

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A Mística na Música Ocidental


A Mística na Música Ocidental

O grande destino histórico de Bach foi oferecer a humanidade uma versão musical da vida de Jesus Cristo, pois Ele, Jesus Cristo era sua paixão espiritual.
Bach como um demiurgo, tirou a sua música de si mesmo. O seu poder de criação era tal que se poderia afirmar, nele se instalara a consciência divina para poder ampliar os limites do universo.
A música de Bach é a vida em plenitude, é o anseio de infinita beleza. Para ele a música era a linguagem absoluta. Ele sentiu e criou sua música como religião universalizada.
Ao lançarmos nossos olhos no interior de Bach, verificamos tratar-se de um ser Bakta por excelência.
Bakta, é todo aquele que trabalha em prol da união pela universalização do Amor. O trabalho de um Bakta tem por fim a purificação completa da alma humana, fazendo-a toda pureza, bondade e renúncia. Graças à introspecção e a meditação sobre as virtudes de uma determinada divindade eleita como exemplo e alvo de todo o seu esforço, consegue o Bakta exprimir naquilo que faz, a essência de um ser divino, que em suma, tenha manifestado neste mundo, todos os atributos divinos de compaixão, amor e desinteresse.
Aqui vemos o trabalho de Bach na música, retratando a vida de Jesus Cristo e legando para a humanidade um tesouro sonoro, que permite a todos nós vivenciarmos em nosso interior os caminhos que nos levam até o Ser Infinito.

Nos diz a Sabedoria Iniciática das Idades, que todo Bakta, pelo esforço continuado da meditação, consegue sentir, em seu próprio ser, a presença desses entes divinos, o que se pode exteriorizar por meio de sinais relacionados com a sua passagem pela face da terra. Daí os estigmas de sangue dos místicos cristãos, e a flor do lótus que se desenha na fronte dos adoradores de Buda.

Os seguidores desse caminho iniciático, nos conta a Sabedoria Iniciática das Idades, procuram despertar, em sua natureza sensível, um sentimento tão poderoso e intenso, que absorva todas as demais possibilidades emotivas. São, por isso, os “Embriagados pelo Amor Divino”. Para estes, os ideais de amor e compaixão por seus irmãos em humanidade embriaga mais que um vinho capitoso, e quem o bebe em largos sorvos fica “louco”, “louco do Amor Divino”. No Ocidente, temos um exemplo de Bakta perfeito em Francisco de Assis, que chegou a amar, indistintamente, com o mesmo intenso e arrebatado amor, todas as manifestações da Natureza. Sentia-se viver nas pedras, nas plantas, nos animais, nos seus irmãos em humanidade, e até mesmo em Deus. A tal ponto chegou a sua identificação com as múltiplas expressões da Vida Una, que acabou por entender a linguagem, velada para nós, das obscuras consciências infra-humanas, da mesma maneira que entendeu a linguagem divina. Um Bakta pode tomar, para alvo de amor, nas primeiras etapas do caminho, seres que, tendo vivido entre os homens, representam, a seus olhos, verdadeiras encarnações do Amor Universal. Graças à meditação constante e quase exclusiva sobre a vida, os sacrifícios e as perfeições desses santos e heróis, sentem-se como eles, acabam revivendo os sucessos de sua existência. É fácil, assim compreender por que, no corpo de São Francisco de Assis, se abriram as chagas que outrora martirizaram o meigo Rabino da Galileia (Jesus Cristo). Nem sempre, porém, o Bakta se deixa arrebatar unicamente por tal sentimento irresistível. Adotam outros ideais, que julgam úteis e favoráveis à evolução humana, visando em última análise, a confraternização dos homens. Este é o caso de Bach, corroborado pelo testemunho de Berlioz, autor da Sinfonia Fantástica, por meio de uma carta sua de Berlim a um amigo em Paris: “... Ouvindo a música da “Paixão Segundo São Mateus”, testemunhei o respeito, a atenção, a piedade com que o auditório alemão escutava essa composição por acreditar nela. Acompanhava todas as palavras do texto num silêncio e num recolhimento profundos. Nem censura, nem aplauso. Devoção e reconhecimento...”

Bach, ao compor uma música, dava-se por inteiro à criação. Ele se transfigurava e se envolvia numa atmosfera de infinita alegria quando cantava e glorificava Jesus Cristo, que ele tanto amava, ou sofria, sentia as mesmas dores quando via Jesus, sangrando dolorosamente e açoitado na sua via-sacra a caminho do Gólgota. Vejamos esta pungente página de sua esposa Magdalena, testemunha ocular da glória, do drama e do sofrimento que Bach compartilha com o seu amado Jesus: “Lembro-me de ter uma vez entrado no seu quarto, justamente no momento em que ele se preparava para compor o solo de “o Gólgota” da Paixão Segundo São Mateus. Causou-me uma impressão de dor e senti a mesma dor de Sebastian, seu rosto, geralmente tão sereno, estava pálido e banhado em lágrimas. Felizmente, não me viu. Saí silenciosamente, sentando-me na escada, chorando as mesmas lágrimas que Sebastian chorava, revivendo o sacrifício de Jesus Cristo, só Jesus e Sebastian deveriam ser testemunho desta dor”.

Algum tempo depois, sua esposa Magdalena, volta a nos falar deste momento sublime e doloroso. Momento em que o céu se amalgamou com a terra, ali naquele momento em que Bach compunha “o Gólgota”, “Ao ouvir agora a Paixão Segundo São Mateus, remonto àquele dia em que vi o rosto de Sebastian banhado de lágrimas ao escrever “o Gólgota” desta obra, quando tive desejo de o abraçar carinhosamente contra o meu peito, mas não ousei; alguma coisa no seu olhar me aterrorizava. Sebastian jamais soube que eu o surpreendera nas angústias da criação, e ainda hoje me regozijo com isso, pois foi um momento de que somente Deus deveria ser testemunha”.

Nos conta a Sabedoria Iniciática das Idades, que não raro, os seres Baktas transformam-se numa representação viva desses ideais e num exemplo imperecível para a memória dos povos. Selam, muitas vezes, com o próprio sangue, o próprio sofrimento, a própria dor, a abnegação pela causa defendida.

Bach morreu cego e surdo, numa terça-feira, a 28 de julho de 1750, às oito horas e um quarto da noite. Do alto do púlpito, o pastor pronuncia as seguintes palavras: “Adormeceu suave e santamente o muito competente e honrado Johann Sebastian Bach, compositor da corte de Sua Majestade Real da Polônia, e de Sua Alteza o Príncipe de Saxe, Mestre-de-Capela de Anhalt-Kothen, Cantor de São Tomás. De acordo com o costume cristão, seu corpo foi dado à terra no Cemitério de São Tomás”.

Beethoven, Wagner e Bach ainda existem, e sempre existirão no interior de todos aqueles que sentiram e amaram a sua música, tendo-a como a jóia mais preciosa saída do coração do Ser Infinito para a sua criação.

Para terminar, transcrevemos aqui palavras do insigne Jinarajadasa, que nos dá um maravilhoso panorama sobre o que vem a ser evolução, para que cada um medite e tire suas conclusões.
“Por mais fascinante que seja o exame do cosmos à luz da evolução, ensinada pela ciência moderna, destaca-se ali, no entanto, um elemento triste, que é o papel insignificante representado pelo indivíduo no drama eterno. Em seu trabalho “evolutivo”, a Natureza prodigaliza suas energias, construindo forma após forma. Mas que terrível dissipadora parece ser, produzindo muito mais formas do que meios de sua subsistência! Ela não leva em conta o tempo, e o indivíduo não tem para ela quase importância, a não ser pelo tempo que vive. Durante a breve vida do indivíduo, a natureza lhe sorri, o acaricia como se tudo houvesse sido disposto para o seu bem-estar. Mas, depois que ele executou o ato para o qual o impelira, depois que produziu descendentes, ou modificou ligeiramente, com a sua vida, o ambiente para os outros, vem a morte e o aniquila.
Esse “eu sou eu”, que nos compele a viver, a lutar, a procurar a felicidade, cessa de existir, porque não somos nós os importantes; é a espécie. A evolução, vista sob este aspecto, é pavorosa: é um processo mecânico, sereno em sua onipotência, tanto quanto impiedoso. Entretanto, é decididamente um processo, e não é talvez lógico levar em conta as considerações pessoais que nos conduzem a achá-lo agradável ou não. Mas como somos homens e mulheres dotados de faculdades de pensar e de desejar, é certo que introduzimos o elemento pessoal em nossa concepção de vida, e quando consideramos a evolução, a perspectiva que ela nos oferece, sob o ponto de vista individual, não é animadora. Somos nela como bolhas à superfície do mar, nascendo sem que nossa vontade se tenha pronunciado, e cessamos de existir segundo os desenvolvimentos de um processo sobre o que não podemos controlar. Somos da “mesma substância de que se formam os sonhos, e nossa curta vida se acha envolta num sonho.”

“A Idade de Ouro ou Satya-Yuga, anunciada desde tempos imemoriais, já pela boca dos “rishis” indianos, das sibilas, dos profetas, e até do próprio Virgílio, através da sua Eneida, etc., Era da Humana Redenção, e que tem ocasionado por parte de fanáticos muito comuns nesse fim de Ciclo apodrecido e gasto as idéias messiânicas, só terá lugar quando, por esforços próprios, no mínimo, quando dois terços da Humanidade houverem tomado o Caminho verdadeiro que conduz a essa mesma Redenção.
J H S”
“Faz do teu Mental um Arco; da tua Vitalidade, a Corda; do teu Desejo a Flexa; e dirige-a para este alvo eterno que é Brahmã”.

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