A perfeição é inerente ao nosso ser e, de uma maneira ou de outra, a certa altura somos levados a conscientemente aspirar a ela.
Buscá-la é um processo riquíssimo, de descobertas contínuas, em que vamos pouco a pouco nos adestrando. Sem dúvida, exige persistência. Mas, ao contrário do que muitos pensam, a perfeição não é algo a ser construído ou acrescentado. É a própria essência da vida, a que chegamos pelo despojamento e pela simplicidade. Para isso é preciso silêncio diante do que nos é desconhecido.
No profundo de nós mesmos existe um modelo que corresponde à ideia original que nos trouxe ao mundo. Para reconhecer esse modelo temos de nos desidentificar da natureza humana, isto é, temos de saber que não somos as forças instintivas, emocionais e mentais. Nossa consciência transcende tudo isso. E aqui está uma chave importante: esforçarmo-nos nessa direção, mas sem contar com resultados.
Se nos mantivermos nessa disposição, notaremos surgir em nós uma força, um movimento interior que vai tomando o lugar da luta. Embora esforço seja necessário e gere tensão positiva, em que permanecemos sempre prontos a acolher essa intervenção superior, cabe-nos observar até que ponto temos de exercê-lo e até que ponto essa ação interna teve início. E, também, até que ponto outras energias, cósmicas, já estão colaborando nesse processo. Vamos então, cada vez mais, deixando-nos guiar por um sentido interior. Isso é possível hoje como nunca antes, e imensa é a ajuda disponível para os que realmente se voltam para a luz.
Assim, podemos estar em contínua invocação. O pensamento se torna magnético, uma vez que surge de uma aspiração impessoal. Deixamos de usar a sua força de maneira egoísta e nos aproximamos de um pensamento criativo, que ao se dirigir a um ser ou a um objeto pode trazer à tona a perfeição que mora ali dentro.
É conhecida a história de um ser evoluído que à beira de um caminho deparou com um animal morto em avançado estado de decomposição. Ao olhar para aquele corpo que a todos causava repulsa, disse apenas: ``Que belos dentes!``, como se nos mostrasse o que fazer com as pessoas, com as coisas e com tudo. Isso não quer dizer que não perceberemos o que estiver degradado ou desordenado. Veremos também isso, mas apenas de relance, e nosso pensamento logo tomará outra direção.
José Trigueirinho Netto
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