No Ocidente, muitas pessoas acham que o Nirvana é o paraíso, ou então um estado de graça e felicidade muito avançado. Quero mostrar o sentido do Nirvana dentro do Induismo, que é a religião mais antiga do mundo e dentro do Budismo, que foi sua ramificação.
Tanto o hinduísmo como o budismo são divididos em várias segmentos diferentes com uma ampla gama de crenças. Muitos teólogos nem mesmo reconhecem o hinduísmo como uma única religião, mas como um aglomerado de práticas religiosas que une vários grupos diferentes.
Conseqüentemente, há pouquíssimas qualidades ou crenças que podemos atribuir ao hinduísmo ou ao budismo como um todo. Porém, há várias idéias que caracterizam de maneira geral as duas religiões e, quando falarmos das crenças hindus e budistas, estaremos nos referindo a estas doutrinas gerais comuns à maior parte das principais segmentos.
Na tradição hindu, o nirvana (mais conhecido como moksha) é a reunião com Brahma, o Deus universal ou alma universal. No hinduísmo tradicional, uma alma atinge este estado após viver muitas vidas, nas quais vai subindo pelo varna, ou sistema de castas. Os seres humanos acumulam bom carma ao realizar as obrigações da casta em que nasceram. Se uma pessoa nasceu em uma casta inferior, sua única esperança é se comportar de acordo com sua casta para subir a uma casta mais elevada na próxima vida.
Quando uma alma atingir as castas superiores, pode escapar do ciclo de reencarnação ao eliminar o mau carma. Isso inclui fazer boas ações (possivelmente durante várias vidas) e também retirar as distrações materiais de seu caminho. Quando uma alma finalmente escapa do ciclo cármico, torna-se uno com Brahma logo que sua última encarnação corporal morrer, passando a existir em um plano mais elevado da existência que transcende os sofrimentos da vida material. Essencialmente, podemos dizer que a alma é reunida à energia intangível que criou o universo.
O nirvana costuma ser associado principalmente ao budismo, que teve sua origem no hinduísmo durante o século V a.C. Ele começou como um movimento, baseado na filosofia e vida de um homem chamado Sidarta Gautama, dentro do próprio hinduísmo e, eventualmente, se separou para criar seu próprio caminho.
E, como diz a lenda, foi logo após escolher esse caminho, isto é, o caminho do meio que unia a vida de asceta com a vida material, que Sidarta finalmente atingiu a iluminação. Enquanto meditava sob uma árvore, viu todas as suas vidas passadas, para então ver as vidas passadas de outros seres. Finalmente, obteve um conhecimento perfeito e onisciente do nosso mundo e do mundo além do nosso.
No budismo, este estado, que o Buda não pode descrever com a linguagem, chama-se nirvana, uma palavra que significa "extingüir" em sânscrito. Neste caso, significa extingüir a ignorância, ódio e sofrimento material. O termo é mais associado ao budismo, embora seja associado com um conceito semelhante no hinduísmo.
Ao atingir o nirvana, é possível escapar da samsara, o ciclo de reencarnação que é característica tanto do hinduísmo como do budismo. Em cada vida, uma alma é punida ou recompensada baseando-se em suas ações passadas, ou carma, feitas na vida atual e em vidas passadas (que também inclui vidas que vivemos como animais). É importante perceber que a lei do carma não ocorre devido ao julgamento de um deus sobre o comportamento da pessoa; na verdade, é algo mais parecido com as leis do movimento de Newton: cada ação tem uma reação de mesma intensidade e no sentido oposto. Acontece automaticamente, por si só.
Quando atingimos o nirvana, paramos de acumular mau carma pois já o transcendemos. passando o resto de nossa vida, e algumas vezes vidas, eliminando o mau carma que já havíamos acumulado.
Uma vez que tivermos escapado totalmente do ciclo cármico, atingimos o parinirvana, o nirvana final, no além-vida. Da mesma maneira que ocorre com o nirvana hindu, as almas que atingiram o parinirvana ficam livres do ciclo de reencarnação. Buda nunca especificou como era o parinirvana e, de acordo com o pensamento budista, ele está além da compreensão humana normal.
Como vimos, o Nirvana não é o paraíso. Talvez seja só um caminho para se atingir níveis superiores de consciência. E este estado de Nirvana, todos algum dia, podemos conseguir.
Fonte: HowStuffWorks
Deborah Valente B. Douglas
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