O conhecimento seria um bem ou
um mal?
E a ignorância, benção,
castigo, maléfica, benéfica?...
A mais sacrificada das
aventuras humanas
é a da busca do conhecimento.
Trata-se de uma derrota
anunciada desde o início.
Mas teima-se em vivê-la.
Quem pensa saber muito não
sabe nada.
Seriam, então, os que nada
sabem os que mais sabem?
Aquela reflexão socrática –
“eu sei que nada sei” –
Não é simples humildade,
mas confissão de derrota, de
impossibilidade.
O conhecimento, pois, é o
desafio em direção ao impossível.
Por mais que se saiba algo de
algo, não se sabe nada dele.
A “douta ignorância” é, de
certa forma,
ter consciência disso:
reconhecer que nada sabe.
Na busca do conhecimento, a
tragédia do homem,
penso eu, está em descobrir a
impossibilidade de saber tudo.
Isso angustia, martiriza,
deprime.
Pois saber de ou poucas coisas
nos leva a viver na corda bamba,
no sofrimento do nada, na
incerteza, na insegurança.
O pouco que se sabe basta para
cansar e desanimar.
O conhecimento tem a
capacidade de,
sendo uma potência, tornar
impotente o ser humano,
levando-o a descobrir os seus
verdadeiros limites.
Impossível conhecer tudo de
alguma coisa.
É torturante saber quase nada
do muito.
É isso que estou querendo
dizer:
“o conhecimento é ladrão dos
sonhos
e a ignorância é a mãe que faz
sonhar."
Se conhecer pouco não serve
para nada,
nada conhecer leva sonhar.
Cadê meus sonhos?
Trechos da crônica: Ignorância - Cecílio Elias Netto -