Lembrança é quando, mesmo sem autorização,
seu pensamento reapresenta um capítulo.
Angústia é um nó muito
apertado bem no meio do sossego.
Preocupação é uma cola que não
deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Dificuldade é a parte que vem
antes do sucesso.
Sucesso é quando você faz o
que sabe fazer só que todo mundo percebe.
Indecisão é quando você sabe
muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa
de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração
dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa
em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Vaidade é um espelho
onisciente, onipotente e onipresente.
Vergonha é um pano preto que
você quer pra se cobrir naquela hora.
Ansiedade é quando faltam
cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Interesse é um ponto de
exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o
coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que
mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que
aperta seu coração.
Felicidade é um agora que não
tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz
questão de você e se empresta pros outros.
Desilusão é quando anoitece em
você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que
podia ter feito diferente, mas geralmente não podia.
Perdão é quando o Natal
acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que
pretende ser um beijo.
Beijo é um carimbo que serve
pra mostrar que a gente gosta daquilo.
Gostar é quando acontece uma
festa de aniversário no seu peito.
Amor é um gostar que não
diminui de um aniversário pro outro. Não. Amor é um exagero... Também não. É um
desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade,
um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não haja explicação, esse
negócio de amor ela não sabia explicar...
Adriana Falcão, roteirista e
escritora; escreveu “A Máquina” e “Mania de Explicação”, de onde esse texto foi
retirado.